quarta-feira, 4 de maio de 2011

IETA FEDERAL PAI D’ÉGUA

NA U.F.C. A QUIMICA TRANSFORMA PARA

MELHOR O MEIO AMBIENTE.



Químico
Afrânio Aragão Craveiro

Ainda não dá para limpar a mancha monstruosa do Golfo do México, porque falta produção em escala. Mas os vazamentos pequenos e médios estão com os dias contados: já está inventada e patenteada a tecnologia brasileira capaz de limpar o petróleo derramado no mar e ainda acelerar a degradação do poluente recolhido.

A ideia começou a tomar forma lá atrás, quando o químico Afrânio Aragão Craveiro, da Universidade Federal do Ceará (UFC), foi procurado pela indústria camaroneira do litoral nordestino para dar destino adequado aos resíduos: montanhas de cabeças e cascas de camarão. Para comercializar as atuais 60 mil toneladas de camarão cultivado produzidas por ano, por exemplo, antes é preciso extrair pelo menos 20 mil toneladas de resíduos.

Craveiro descobriu a utilidade de uma substância chamada quitina, presente na carapaça do camarão (também dos demais crustáceos, como lagostas, siris e caranguejos) e criou uma bem sucedida indústria de cápsulas de quitosana, usadas para combater a obesidade, reduzir o colesterol e ministrar remédios com precisão.

A principal característica da quitosana é aglutinar e absorver gordura. “Ora, o petróleo assemelha-se à gordura vegetal, então imaginamos que a quitosana teria a mesma propriedade lipofílica, ou seja, de atração e absorção do óleo”, conta o cientista. Isso foi há três anos, quando Craveiro trabalhava na diversificação de produtos do Parque de Desenvolvimento Tecnológico da UFC (Padetec). Em laboratório, sua equipe reproduziu manchas de petróleo na água do mar e as borrifou com um spray de quitosana. O óleo espalhado se aglomerou numa massa mais fácil de recolher.

Não contentes com o resultado, os pesquisadores magnetizaram a quitosana, acrescentando magnetita às cápsulas de cascas de camarão. “Além de coalescer (ou seja, ficar intensamente aglutinada), a mancha de óleo pode ser recolhida no porão de um navio por meio de um magneto (imã), eliminando a necessidade de toda a parafernália de esponjas e demais equipamentos absorventes utilizados”, acrescenta Craveiro.

Mas ainda não era o suficiente. E a equipe da UFC recorreu novamente à biodiversidade, em busca de um meio de acelerar a degradação do petróleo recolhido. Sob coordenação de Vânia Maria Maciel Melo, realizou-se uma verdadeira garimpagem nos campos de petróleo de Suape (PE), Pecém e Lubnor (CE), para selecionar os microorganismos mais eficientes na degradação do óleo.

A espécie eleita foi a bactéria Bacillus pumilus que, inserida na cápsula de quitosana magnetizada, é capaz de transformar o viscoso poluente recolhido em gases e compostos ambientalmente menos agressivos, como gás carbônico, ácido lático e outros. A degradação leva alguns dias e a quitosana magnética ainda pode ser recuperada de volta.

A nova tecnologia de recolhimento e degradação de petróleo é objeto de uma patente de nome comprido: Microesferas de quitosana com células de Bacillus pumilus imobilizadas para uso na biodegradação de efluentes industriais e domésticos e na biorremediação de ambientes naturais contaminados com petróleo e derivados. E foi premiada pela Petrobras como o melhor invento de 2009, gerando interesse de empresas petroleiras internacionais.

Parte do desenvolvimento da nova tecnologia já contou com recursos da própria Petrobras e da Financiadora de Estudos e Projetos (Finep), que continuam apoiando as pesquisas. Agora a equipe do Padetec se prepara para produzir 300 quilos de cápsulas magnetizadas de quitosana por dia e já conta com um reator para multiplicar as bactérias. O objetivo é fabricar o spray em maior escala e realizar testes de campo, a última etapa antes de partir para a produção comercial.

Na outra ponta da cadeia, o Padetec conta com financiamento do Banco do Nordeste para instalar unidades produtoras de quitosana junto aos carcinocultores (criadores de camarão), a quem o pacote tecnológico – sob coordenação de Raul Correa Filho e Erivam Melo – será repassado.

Nada disso libera produtores e transportadores de petróleo da obrigação de evitar vazamentos. Porém, a iniciativa demonstra que a inteligência humana trabalhando junto com a natureza incrementa muito a nossa capacidade de remediar danos e solucionar problemas.



Biodiversa
Liana John

Liana John é jornalista ambiental. Escreve sobre conservação, mudanças climáticas, ciência e uso racional de recursos naturais há quase 30 anos, nas principais revistas e jornais do país. Ao somar entrevistas e observações, constatou o quanto somos todos dependentes da biodiversidade. Mesmo o mais urbano dos habitantes das grandes metrópoles tem alguma espécie nativa em sua rotina diária, seja como fonte de alimento ou bem-estar, seja como inspiração ou base para novas tecnologias. É disso que trata esse blog: de como a biodiversidade entra na sua vida. E como suas opções, eventualmente, protegem a biodiversidade.



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